Thursday, November 11, 2021














homens não sabem
que não é só de filho
que mulher engravida
fazem a gente sonhar
(re)planejar uma vida
recalcular todos os planos
(não incluir os danos)
dizem que amam
(nem sempre sentem)
dias desses largam
a gente por coisa qualquer
não sabe o homem
que deixou grávida
uma mulher
de fantasia


*Cáh Morandi

Sunday, April 19, 2020


- Com quem mais você se casaria em seus sonhos? (...)



Desculpe por todas as coisas que eu nunca lhe darei. Nunca mais poderei lhe comprar um sanduíche de carne com molho extra. Sempre o de tamanho maior. Não irei mais fazê-la sorrir. Eu queria que envelhecêssemos juntos. Dois velhinhos rindo juntos enquanto nossos corpos decaíam. Juntos, no fim, perto do lago no seu quadro. Era nosso paraíso, lembra? Há muitas coisas a se perder. Livros, sonecas, beijos...e brigas. Nós tivemos algumas fantásticas. Eu agradeço até por elas. Agradeço por toda a sua bondade. Agradeço por nossos filhos. Pela primeira vez que os vi. Agradeço por ser alguém de quem sempre tive orgulho. Por sua coragem e por sua doçura. Pela sua aparência porque eu sempre quis tocá-la. Você era toda a minha vida. Peço desculpas por todas as vezes que lhe decepcionei. Inclusive esta.


*Do filme "Amor além da Vida"

Thursday, December 26, 2019

REVISÃO













”Quero ver você revisado,
renovado,
ressofrido.
Não precisa chegar arrependido.
Basta vir consciente.
Não precisa vir banido:
que chegue só devidamente
restaurado.
Não venha sequer
para ficar comigo;
mas sim porque o destino
deixou nosso caso inacabado.
E quando vier arrematar
sua partida,
traga de volta
a última saudade que lhe dei,
molhada ainda das luas que chorei.
Vou entregá-la à noite
confidente,
para que a guarde de vez em seu arquivo.
Ela vai se gastar, esvanescente,
como uma prova de adeus definitivo.”

(Flora Figueiredo)

Saturday, February 02, 2019


A alegria evaporou
por entre sorrisos
despedaçados
Tristeza?...
Talvez sensação
de pétala
no ar
ausente da rosa
e do espinho
Talvez excesso
de poeira
no porta-retrato
Talvez pedaços
de fotografia
a redesenhar o chão
do quarto:
este pequeno espaço
a abrigar
angústias e ausências.


*Ane Montarroyos






Saturday, November 04, 2017














Não há mais nada para acontecer
Nada que não seja previsto
Nada que possa surpreender
Não espanta flores nascendo nas calçadas
Não apavora estrelas novas sendo penduradas
Nem o corpo vencendo a física
Nem o cego lendo mímica
Nem a ciência na sua vã experiência e sua cara de 
reticências nas coisas que o amor pode fazer...
O mais impossível era esse encontro
Entre tantos desencontros,
Entre tudo que não tinha nada a ver,
Só tinha que ser você para ser inesperado 
E agora que venha o que vier 
Porque de resto nada além,
Agora o que vem já é esperado

*Cáh Morandi

Friday, July 14, 2017












(…)You're out on the streets looking good
And baby deep down in your heart
I guess you know that it ain't right
Never, never, never, never, never
never hear me when I cry at night
Babe, and I cry all the time!
But each time I tell myself that I
well I can't stand the pain
But when you hold me in your arms
I'll sing it once again

I'll say come on, come on, come on, come on and take it!
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart now, darling, yeah
Oh, oh, have a!
Have another little piece of my heart now, baby
You know you got it, child, if it makes you feel good

I need you to come on, come on, come on
come on and take it! (...)


*Janis Joplin

-

Tuesday, November 15, 2016


Só por hoje vou rasgar os códigos. Desacato as regras, os preços módicos. Só por hoje desacredito das retas, descarrilho do trilho, desvio das setas. Preciso de tempo pra sonhar, respirar fundo e carregar na mão o sal da vida e o mel do mundo. Se o compromisso tocar a campainha, peço que aguarde na casa vizinha, mansamente, sem fazer alarde. Mas comunico a todos pela imprensa que sumiu a lucidez. Pediu licença. É só por hoje, mas agora é minha vez.


*Flora Figueiredo



Tuesday, December 29, 2015



Meu bem
Guarde uma frase pra mim dentro da sua canção
Esconda um beijo pra mim sob as dobras do blusão
Eu quero um gole de cerveja no seu copo, no seu colo e nesse bar

Meu bem
O meu lugar é onde você quer que ele seja
Não quero o que a cabeça pensa
Eu quero o que a alma deseja
Arco-íris, anjo rebelde
Eu quero corpo tenho pressa de viver

Mas quando você me amar, me abrace e beije bem devagar
Que é pra eu ter tempo, tempo de me apaixonar
Tempo pra ouvir o rádio no carro
Tempo para a turma do outro bairro ver e saber que eu te amo

Meu bem
O mundo inteiro está naquela estrada ali em frente
Tome um refrigerante depois do meu beijo quente
Sim, já é outra viagem
E o meu coração selvagem tem essa pressa de viver

Meu bem

Mas quando a vida nos violentar
Pediremos ao bom Deus que nos ajude
Falaremos para a vida "vida pisa devagar
Meu coração, cuidado, é frágil
Meu coração é como um vidro
Como um beijo de novela"

Meu bem
Talvez você possa compreender a minha solidão
O meu som, a minha fúria e essa pressa de viver
Esse jeito de deixar sempre de lado uma certeza
E arriscar tudo de novo com paixão
Andar caminho errado pela simples
Alegria de ser

Vem viver comigo
Vem correr perigo
Vem morrer comigo

Meu bem (...)

Talvez eu morra jovem em alguma curva do caminho
Algum punhal de amor traído completará o meu destino
Vem

Vem viver comigo
Vem correr perigo
Vem morrer comigo
Meu bem (...)


*Belchior

Sunday, July 19, 2015




" Nada lhe posso dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daquele que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. Eu o ajudarei tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo."

*Hermann Hesse


Thursday, August 14, 2014




Que a vida encontre descanso em meio ao caos, que o vento forte sopre perfume de flores distantes, que o sol ilumine o rosto apagado, que a memória traga sempre lembranças boas, que os pés andem descalços e possam sentir a pureza da terra, que o barulho da alma seja embalo para um novo sorriso;

nossas almas são luzes que brilham a procura de movimentos leves, nossos sonhos são a parte mais sensata dos dias, a busca recorrente daquilo que de tão distraídos, quase esquecemos.

Quem compreende sorrisos, compreende a saudade, a alegria, o amor, quem toca em lágrimas, sabe o significado das nuvens, que de tão leve, torna se a expressão da condição celestial e faz dela algo real.

Voar não vai representar nada, se de longe não for possível sentir o que o mar expressa, o caminhar será sempre perdido, se daqui não puder tocar o infinito horizonte, tudo aquilo que o coração da gente necessita se encontra na bondade de um simples olhar, alguém que ofereça uma compaixão avassaladora por tudo que tocamos e sentimos.

*Ana Beltrão

Monday, March 24, 2014







“(…) And again I believe that we don’t really lose anything that is important. We only deceive ourselves, thinking that we own things, the instants, the others. Along with me go all the dead people I loved, every friend that step away, every happy days meanwhile gone. I didn't lose anything, only the illusion that everything could be mine forever.”


*Miguel Sousa Tavares ("roubartilhado" da minha Sis!)


Saturday, August 10, 2013





Espero alguém que ponha bilhetinhos dentro daqueles livros que vou ler até o fim.
Espero alguém que se arrependa rápido de suas grosserias e me perdoe sem querer.
Espero alguém que me avise que estou repetindo a roupa na semana.
Espero alguém que nunca abandone a conversa quando não sei mais falar.
Espero alguém que, nos jantares entre os amigos, dispute comigo para contar primeiro como nos conhecemos.
Espero alguém que goste de dirigir para nos revezarmos em longas viagens.
Espero alguém disposto a conferir se a porta está fechada e o café desligado, se meu rosto está aborrecido ou esperançoso.
Espero alguém que prove que amar não é contrato, que o amor não termina com nossos erros.
Espero alguém que não se irrite com a minha ansiedade.
Espero alguém que possa criar toda uma linguagem cifrada para que ninguém nos recrimine.
Espero alguém que arrume ingressos de teatro de repente, que me sequestre ao cinema, que cheire meu corpo suado como se ainda fosse perfume.
Espero alguém que não largue as mãos dadas nem para coçar o rosto.
Espero alguém que me olhe demoradamente quando estou distraído, que me telefone para narrar como foi seu dia.
Espero alguém que procure um espaço acolchoado em meu peito.
Espero alguém que minta que cozinha e só diga a verdade depois que comi.
Espero alguém que leia uma notícia, veja que haverá um show de minha banda predileta, e corra para me adiantar por e-mail.
Espero alguém que ame meus filhos como se estivesse reencontrando minha infância e adolescência fora de mim.
Espero alguém que fique me chamando para dormir, que fique me chamando para despertar, que não precise me chamar para amar.
Espero alguém com uma vocação pela metade, uma frustração antiga, um desejo de ser algo que não se cumpriu, uma melancolia discreta, para nunca ser prepotente.
Espero alguém que tenha uma risada tão bonita que terei sempre vontade de ser engraçado.
Espero alguém que comente sua dor com respeito e ouça minha dor com interesse.
Espero alguém que prepare minha festa de aniversário em segredo e crie conspiração dos amigos para me ajudar.
Espero alguém que pinte o muro onde passo, que não se perturbe com o que as pessoas pensam a nosso respeito.
Espero alguém que vire cínico no desespero e doce na tristeza.
Espero alguém que curta o domingo em casa, acordar tarde e andar de chinelos, e que me pergunte o tempo antes de olhar para as janelas.
Espero alguém que me ensine a me amar porque a separação apenas vem me ensinando a me destruir.
Espero alguém que tenha pressa de mim, eternidade de mim, que chegue logo, que apareça hoje, que largue o casaco no sofá e não seja educado a ponto de estendê-lo no cabide.
Espero encontrar um homem que me torne novamente necessária.


 

*Do livro "Espero Alguém" (Bertrand Brasil, 2013) * adaptado




Sunday, June 09, 2013


Simplesmente aconteceu
Não tem mais você e eu
No jardim dos sonhos
No primeiro raio de luar
Simplesmente amanheceu
Tudo volta a ser só eu

Nos espelhos
Nas paredes de qualquer lugar
Não tem segredo
Não tenha medo de querer voltar
A culpa é minha eu tenho vício de me machucar

De me machucar


Lentamente aconteceu
Seu olhar largou do meu
Sem destino

Sem caminho certo pra voltar
Não tem segredo
Não tenha medo de querer voltar
A culpa é minha eu tenho vício de me machucar

De me machucar
(...)
 
*Ana Carolina


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Tuesday, February 26, 2013

Vou sentir falta...



...de quando nós duas éramos apenas uma;

...de ser elogiada todo dia;
...de sentir minha barriga mexer;
...de ganhar comida de presente;
...de tomar dois sorvetes sem culpa;
...de chamar a atenção de todos com meu barrigão;
...de ser bajulada o tempo todo;
...de escutar meu som favorito: a batida do teu coraçãozinho;
...de esperar ansiosa pelas ultras e ecografias;
...de ser chamada de barriguda e ficar feliz;
...de ler mil artigos sobre o mesmo assunto: a gravidez;
...de ficar curiosa imaginando como será seu rostinho e com quem será parecida;
...de desdobrar suas roupinhas e guardar todas de novo;
...de fazer xixi a cada hora, inclusive de madrugada;
...de me sentir cansada, com dor nas costas e nas costelas;
...de me pesar e ficar feliz com cada quilinho a mais;
 

Vou ter muitas saudades do meu barrigão, mas essa falta será compensada...pois você, minha estrelinha, vai estar aqui comigo...toda hora, todo dia

 

Sunday, December 02, 2012





O mundo em silêncio e, em algum lugar, tua carne ainda ocupa o centro de mim, teu nome se reveza entre meus olhos e minha boca, sem que eu saiba que forma ele finalmente terá. Tem garras, o teu nome. Tem também um sumo que arde quando escala a garganta e me põe essa dor paralisante nas mãos. O pior em cada coisa é não saber se ensurdeceste à minha voz, o pior em tudo é pressentir que estás desertando de mim e que tudo seca, tudo murcha e se despetala em ausência. Sou o retrato bruto da dor, aqui posta de braços abertos à espera dos teus olhos. Sou eu mesma a dor refundada, delicadamente urdida sobre uma frágil tecitura de memória, imóvel e dócil, como só a tristeza pode compor ao corpo. Espero ínfima, mansa e imolada inseta na teia pela tua fome, ou teu abandono.


*Patrícia Antoniette